quarta-feira, 27 de junho de 2012

ESPIRITUALIDADE X CORPO?

Tomemos a imagem de alguém em êxtase religioso: A respiração fica fluída, as pupilas dilatadas, há rubor facial e algum grau de obnubilação da consciência. Podemos perceber estes mesmo sinais em alguém que terminou de praticar uma atividade física ou teve um orgasmo. A questão a ser discutida neste artigo é: Por que dissociamos a espiritualidade do corpo? A cultura ocidental iguala o corpo à carne e a mente ao espírito. Podemos nos remontar aos primórdios da civilização humana para explicar de onde vem esta dicotomia. Quando o hominídeo se pôs de pé, sua cabeça ficou acima de seu corpo. A postura ereta foi desenvolvida paralelamente ao desenvolvimento da razão, o que nos levou a crer que o conhecimento adquirido devia ser superior às funções corpóreas. A negação dos sentimentos e o predomínio da razão estavam instaurados desde então. Pecados da carne, separação do sexo do amor, treinamento das funções corpóreas; todos estes conceitos partem de uma cultura judaico- cristã, sendo que as religiões orientais, em sua grande maioria, não costumam dissociar o corpo do espírito. Já diziam os gregos:” Mente sã em corpo são”. Costumamos trazer à mente a imagem de um asceta, alguém magro e destituído de vida, um ermitão solitário, quando pensamos em alguém espiritualizado. Lowen já dizia que “um corpo opaco é acompanhado por uma mente opaca e uma mente brilhante por um corpo brilhante”. A espiritualidade não é definitivamente uma função somente da mente (sendo que esta equivale à superfície do ser), mas do corpo todo, do âmago de nosso ser. A mente poderia ser equivalente, grosseiramente dizendo, ao ego, instância psíquica que está sobre controle; e o corpo ao id (sede de todos os nossos desejos e impulsos). Podemos então concluir então que esta dissociação espírito (mente)-corpo, com equivalente exaltação do primeiro, está relacionada à necessidade de controle. Por que devemos domar, controlar, subjugar, demonizar nossos corpos? A rigidez do controle do ego é o que impede as sensações profundas de chegarem á superfície. Enrijecemo-nos e mentalizamos nossa vida porque temos MEDO. Sentir amor demais, raiva demais, tristeza demais equivale a perder o controle, e isto causa medo. Quanto mais alto se sobe nos degraus da emoção (seja ela qual for, positiva ou negativa), maior pode ser a queda (descarga). A descarga é sentida pela pessoa minimamente neurótica como uma morte. Já apelidavam os franceses o orgasmo de “la petite mort” (a pequena morte). Com medo da descarga não nos entregamos ás emoções, que são nossa bússola na vida; o que remete á intuição, o que nos diz o que devemos expressar, o que devemos fazer. Alguém que mentaliza todas as suas emoções, torna-se um ser robotizado, alguém sem vida e sem prazer, que não suporta o mínimo de excitação. Mas por que nossa sociedade capitalista, mecanizada e pós moderna precisa de pessoas cada vez mais controladas e distanciadas da própria espiritualidade do corpo? Alguém controlado é alguém confiável, aqueles que controlam suas necessidades corpóreas podem trabalhar mais, ganhar mais dinheiro. Todo este controle a custo de que? Perda do contato com a própria espiritualidade, com o seu sentido de vida, perda de energia, doenças, depressão. Aprender a entrar em contato com as próprias emoções e descobrir seu verdadeiro sentido na vida é o principal objetivo da terapia. Podemos empreender esta busca através de alguma religião também, mas nunca esqueçamos que verdadeira centelha divina somos nós mesmos!

segunda-feira, 9 de abril de 2012

RELAÇÕES SOCIAIS E TRABALHO


A questão do trabalho é e sempre foi essencial para o ser humano. Tudo isto se evidencia em uma simples pergunta que fazemos quando conhecemos alguém: “O que você faz?”. “Sou professor, pedreiro, engenheiro, pintor...” O que faço determina minha identidade e as relações sociais interferem em quem sou.
Na escravidão, no mundo feudal ou no Capitalismo, as relações sociais são determinadas pelas funções. A questão do poder estava relacionada ao nascer ou não com posição social; depois a possibilidade de estudo foi e ainda é totalmente atrelada à possibilidade de crescimento social, mas existe algo que permeia qualquer época: Quem bem se comunica tem sucesso. Não basta executar bem uma função, estar preparado para determinado cargo; você precisa se comunicar bem e circular entre diversos tipos de pessoas. Comunicar-se bem é saber ouvir e perceber o outro, mas antes de tudo a si mesmo. É saber lidar com as diferenças e aprender com elas, é saber enxergar diferentes pontos de vista e utilizá-los para o crescimento pessoal.
Se tivermos de escolher entre duas pessoas muito bem preparadas e competentes para executar determinada função; sendo que uma delas é mais fechada e sabe melhor trabalhar sozinha; e a outra se comunica bem, sabe trocar idéias e integrar diferentes pontos de vista; optaremos por esta última. Mesmo no mundo contemporâneo, dominado pelas relações virtuais, saber se comunicar e possuir boas relações sociais é essencial. A importância do marketing pessoal, do líder democrático e do indivíduo que desenvolve suas múltiplas inteligências, são questões muito discutidas por aqueles que trabalham com Recrutamento e Seleção de Pessoal.
Os pais procuram colocar seus filhos em ótimas escolas, em bons cursos de línguas; mas esquecem da importância de brincar, de ter amigos e bem se relacionar com eles. O aprendizado social se dá na infância e deveria crescer até o fim da vida. Precisamos ter contatos com a família, com o companheiro, com os amigos de infância, com aqueles que praticam o mesmo esporte, com aqueles que gostam dos mesmos programas culturais, etc. É na troca com as pessoas que crescemos como indivíduos únicos e ficamos conhecidos pelo o quê bem fazemos. Aprendemos formas diferentes e novos pontos de vista que podem ampliar nossa visão de mundo e de trabalho, enfim; nos desenvolvemos como um todo.
Saber se relacionar é saber viver, é trabalhar melhor e com mais prazer, enfim desenvolver aqueles aspectos que Reich considerava sinais de saúde física e emocional: Amor, trabalho e conhecimento – As fontes de nossa vida!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

DEPRESSÃO NA TERCEIRA IDADE



É estimado que a Depressão afete 5% da humanidade em geral. No idoso, esta enfermidade é considerada a mais comum dentre os transtornos psicológicos, atingindo o índice de 20% nos indivíduos com mais de 60 anos na classe média e 30% na classe mais baixa. Os preconceitos em relação às doenças mentais e à velhice dificultam o diagnóstico e o tratamento. Existe uma idéia errônea bastante arraigada de que a Depressão faz parte da velhice! Não é! Viver com prazer é sinônimo de saúde. A Depressão é uma doença como outra qualquer, e existem muitos avanços em seu tratamento. Os antidepressivos podem re-estabilizar a química cerebral e a Psicoterapia aliada complementa o tratamento.
A Depressão na terceira idade se manifesta de forma diferente que nas demais fases da vida. Os idosos manifestam mais sintomas somáticos e hipocondríacos, possuem menos antecedentes familiares de Depressão e pior resposta ao tratamento. Entretanto, a Depressão na terceira idade não pode se diferenciar do transtorno em outra fase da vida, apenas pelas circunstâncias existenciais específicas da idade. Os sintomas mais comuns na terceira idade são: tristeza, desânimo, insônia, apatia, falta de apetite e dificuldades de memória. Segundo a cardiologista e geriatra Margarete Henriques, o paciente pode apresentar queixas vagas como: fadiga, dores nas costas ou na cabeça e pensamentos de culpa, inutilidade e desesperança.
É importante saber da história pregressa do paciente, se já manifestou algum tipo de transtorno de humor.

FATORES ASSOCIADOS À DEPRESSÃO NA TERCEIRA IDADE:
• Perda do apoio sócio-familiar devido a diferentes fases de vida.
• Perda do status ocupacional e econômico (aposentadoria)
• Declínio físico continuado (maior propensão às doenças e dificuldades de locomoção, memória, agilidade, etc.)
• As doenças degenerativas (Alzheimer, demência senil, Parkinson) mais comuns nesta idade também produzem sintomatologia depressiva.

A depressão nos idosos depende da interação entre fatores ambientais (perdas e incapacitação), constitucionais e biológicos (propensão genética e traços de personalidade) e de suporte social (perda dos vínculos sócio-familiares, das atividades ocupacionais, diminuição do rendimento econômico e isolamento). Alguns autores dividem basicamente em: Depressão Reativa (relacionada mais aos fatores externos) e em Depressão Concomitante com Doenças (Alzheimer, AVC, Parkinson, Câncer, diabetes e cardiopatias); entretanto é difícil especificar o que é causa ou sintoma, sendo que cada indivíduo é único em sua história de vida e no desenvolvimento da patologia.
Existem vários estudos que relacionam o bom humor e os pensamentos positivos a uma melhor saúde e longevidade. Um dos trabalhos mais recentes foi uma pesquisa com homens e mulheres da Universidade de Yale nos EUA. Entrevistas feitas com eles antes e após 23 anos conseguiram constatar que aqueles que tinham idéias mais positivas a respeito de seu envelhecimento viviam a mais cerca de sete anos.
A cultura é considerada um aspecto muito importante no adoecimento dos idosos. O marketing é direcionado às populações mais jovens, o que pode causar uma sensação de inadequação e de que não se pode mais consumir, de que não é importante ou bonito para usufruir determinados produtos da mídia. Sabe-se que por detrás deste esquema existe a condição de que os idosos são considerados “maus consumidores”. Ganham menos ao se aposentarem, consomem menos e precisam mais dos serviços de saúde.
Existem poucos estudos referentes à subjetividade do idoso (como ele se sente, o que percebe de seu envelhecimento). Na percepção de seu envelhecimento há uma diferença de gênero: os homens tendem e perceber mais sua debilidade física (força física, potência eretiva) e as mulheres tende a perceber mais as mudanças em sua aparência (manchas, rugas, cabelos brancos).
O luto relacionado ao cônjuge aparece como evento mais estressante e relacionado à Depressão. Há um aumento nos casos de Depressão e de visitas ao médico após a morte do parceiro.
A estatística ainda revela que os Transtornos Depressivos nos Idosos possuem uma estatística de 10 a 20-27% e quando em situação de internação, este número sobe para 25% a 80%.
A Depressão na terceira idade é questão saúde pública, devendo ser investido por parte do poder público em ações preventivas, curativas, de tratamento e de informação acerca do assunto. Um planejamento da aposentadoria incluindo atividades de lazer, laborais, familiares e relacionadas à rotina de saúde pode auxiliar na prevenção da Depressão nesta faixa etária.
Desejo aqui encerrar esta explanação com algumas palavras de Osho, mestre indiano que desenvolveu a técnica da Meditação Dinâmica: “na verdade ninguém teme a velhice, e sim o estágio seguinte: A morte. E só pode temer a morte quem não soube bem viver a vida”.


BIBLIOGRAFIA
WWW.palavrasdeosho.com – “O medo surge da identificação com o corpo-mente”.

Revista Plenitude – ano 30 nº 184, setembro de 2010 – Depressão na Terceira Idade – Clarisse Werneck

WWW.psiqweb.med.br – Balone, GJ Moura – DEPRESSÃO NO IDOSO.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A DEPRESSÃO SOB A ÓTICA DA PSICOTERAPIA CORPORAL


De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, nos últimos anos os sintomas depressivos vêm aumentando entre a população e chegando a níveis epidemiológicos. A OMS prevê ainda que em 2020 o Transtorno Depressivo seja a 2ª doença em maior incidência no mundo, somente atrás das doenças cardíacas. A Depressão começou a ser aludida nos anos 90 do século XX, e de acordo com estudos está relacionada á falta de tempo para as relações familiares, crescimento tecnológico, necessidades cada vez maiores de especialização no trabalho, competitividade, ou seja; o verbo “ter” sobrepondo cada vez mais o verbo “ser” na vida das pessoas. Valores como espiritualidade, família, sentimentos de pertencimento ficaram em segundo plano, e a perda da fé e do contato com as emoções são a base fértil na qual se enraíza a Depressão.
Os sintomas típicos são: Humor deprimido, alterações no sono e/ou apetite, agitação ou retardamento psicomotor, fadiga, culpa excessiva, pensamentos de morte, ideação suicida e/ou tentativas de suicídio. É importante salientar que os sintomas variam de indivíduo para indivíduo, podendo parecer um “cansaço generalizado” ou “esgotamento nervoso” na Depressão Atípica. Existem ainda pessoas que manifestam a depressão como um mau-humor crônico, que na maioria das vezes as pessoas classificam como “algo próprio daquele indivíduo”, algo que não pode ser modificado.
Muitas vezes os familiares ou pessoas mais próximas não conseguem diagnosticar os sintomas depressivos e pelo senso comum, ainda se considera que “são coisas da cabeça de quem sente”, que “é falta do que ter para se ocupar”, dentre outras idéias erradas acerca da doença. Só quem sente depressão sabe o que é estar como que anestesiado, sem forças para nada e sem iniciativa para tocar um projeto de vida com objetivo de realizações. Podemos falar nos prejuízos pessoais e familiares, mas também numa esfera maior, nos prejuízos econômicos e sociais que a Depressão causa. Quanto dinheiro poderia ser economizado pelas empresas e pelo poder público se não houvesse o índice elevado de adoecimento psíquico dentre os trabalhadores? Quantas realizações laborais, criações e invenções não poderiam vir da parte das pessoas se estas não adoecessem?
Hoje se sabe que a Depressão é uma doença, se manifestando como Transtorno de Humor (Transtorno Depressivo Maior, Transtorno Distímico, Transtorno Depressivo sem outra especificação, Transtornos Bipolares, Transtorno Ciclotímico, Transtorno de Humor devido á uma condição médica geral e Transtorno de Humor induzido por substância e Transtorno de Humor sem Outra Especificação); ou ainda como sintomas depressivos isolados em outros Transtornos Mentais (Esquizofrenia e Transtornos Psicóticos, Transtornos Mentais relacionados ao uso de substâncias, Transtornos de Ansiedade, Transtornos Somatoformes, Transtornos Factícios, Transtornos Dissociativos, Transtornos Sexuais e de Identidade de Gênero, Transtornos da Alimentação e do Sono, Transtornos de Adaptação e de Personalidade). Sendo assim, os sintomas depressivos podem ser considerados como presentes em todos os Transtornos Mentais, não somente nos de Humor.
A Depressão é causada por um processo de estagnação de energia do indivíduo, fazendo ele não conseguir reagir frente às situações e expressar seus sentimentos de forma natural. As pessoas com o humor deprimido ainda possuem um medo exagerado da perda, criando uma dependência exagerada de outras pessoas; ou ainda uma independência exagerada que também encobre uma profunda dependência. O indivíduo deprimido altera suas percepções acerca do mundo e das outras pessoas, reduzindo as sensações de bem-estar, mudando a forma de pensar, agir e as crenças. Afeta pessoas independentemente do sexo, raça, crença ou condição econômica e/ou financeira.
Para entender esta dinâmica do paciente deprimido, deverá ser estudada a questão da “ilusão quebrada” que precede uma situação depressiva. A ilusão é devido a um comprometimento com um futuro irreal e à fixação no passado, esquecendo-se das questões práticas do presente. O deprimido não se compromete com o presente porque lhe falta auto-percepção e expressão dos sentimentos, ele não vê quem realmente é, com todas suas dificuldades a serem vencidas e potencialidades a serem exploradas. No processo de estagnação de energia, vão se desenvolvendo bloqueios no corpo da pessoa deprimida que também devem ser trabalhados. O processo de estagnação energética pode levar na maioria dos casos á doenças crônicas ou agudas, que devem ser tratadas em conjunto com médico da especialidade referida.
São inúmeros os recursos para o tratamento da Depressão, tanto na área médica quanto na psicológica. Quando são associadas estas duas terapias a possibilidade de cura é muito maior. Cada pessoa é única em seu sofrimento, porém é importante saber que existe tratamento adequado para a Depressão.
A Psicoterapia Corporal para a pessoa deprimida se efetiva inicialmente devolvendo energia através de actings, exercícios e respirações. Este acréscimo de energia possibilitará à pessoa trabalhar suas motivações. O segundo passo no projeto terapêutico e desenvolver a autopercepção, que está muito pouco desenvolvida no indivíduo depressivo. Sabendo o que sente realmente frente ás situações de sua vida, a pessoa pode reagir de forma eficaz, o que a leva a caminhar de encontro aos seus reais objetivos e ao que realmente lhe dar prazer.
O objetivo da psicoterapia é fazer o indivíduo entrar em contato com suas sensações, fazendo fluir a energia estagnada e trazendo sensações de prazer. Mas para chegar a este estágio de saúde, o paciente deverá entrar em contato com sua tristeza e raiva reprimidas, tornando-se consciente de seus bloqueios. O bloqueio da raiva e da tristeza, aprendidos de forma mais ou menos neurótica em nossa cultura através da educação parental, causa uma perda excessiva de energia. Esta energia deveria estar voltada para a auto-regulação, ou seja, expressão natural dos sentimentos, sempre com respeito aos outros seres e humildade perante á vida.

terça-feira, 6 de julho de 2010

O QUE É A PSICOLOGIA CORPORAL



A psicologia corporal é uma área de estudo dentro da ciência psicológica na qual o individuo é considerado sob o ponto de vista energético. A energia é o equivalente a força vital que circula no organismo podendo estar em desequilíbrio. As pressões ambientais no trabalho, nos relacionamentos, os traumas emocionais, padrões rígidos de pensamento e comportamento, podem levar a doenças emocionais e físicas, que nada mais são que desequilíbrios energéticos.
No Oriente o conceito de energia é mais utilizado. Na China fala-se em Ch’i, no Japão Ki e na índia Prana. Estas culturas acreditam na energia que está presente em todas as coisas e seres vivos, sempre em movimento, sendo renovada. Através de toques, massagens e exercícios (Tai-chi-chuan, Medicina Chinesa, Massagem e Medicina Ayurvédica na índia) os povos orientais buscam harmonizar a energia em desequilíbrio e manter o estado de saúde no organismo.
Mas o que a energia tem a ver com o trabalho da Psicoterapia Corporal? Podemos dizer que TUDO. Para falar de Psicoterapia Corporal, devemos nos remeter a Reich, o seu criador. O médico Austro-húgaro Wilhelm Reich é considerado pai da Psicologia Corporal. Como aluno e discípulo de Freud, grande pai da Psicanálise, re-criou sua teoria com base no desenvolvimento psicossexual humano, incluindo uma visão do corpo e dos processos fisiológicos de seus pacientes. Reich observava a postura, os problemas somáticos e percebeu que todos aqueles que tinham alguma perturbação
psíquica também possuíam uma incapacidade para o prazer. Em seu livro “A Função do Orgasmo”, Reich faz um estudo detalhado da perturbação orgástica. Ele chegou á conclusão de que deveria resgatar a capacidade de entrega ao parceiro, o que determinaria uma potência orgástica saudável. A capacidade de entrega num relacionamento sexual de um indivíduo adulto foi considerada por Reich o “têrmometro” de sua saúde psíquica. A capacidade para o prazer se desenvolve em todas as esferas de vida de um indivíduo, tornando-o mais criativo em seu trabalho e suas relações mais prazerosas.
O processo de aumento da capacidade para o prazer se desenvolve dentro da Psicoterapia Corporal num contato maior com o corpo e com as sensações corporais, o que determina uma maior conexão com os sentimentos e compreensão de si mesmo. Identificando melhor o que sente, através do desbloqueio das couraças (termo utilizado por Reich para denominar anéis de tensão ao longo do corpo e estruturados no processo de desenvolvimento único para cada um), o indivíduo cria forças para buscar seus objetivos e viver uma vida mais plena e satisfatória.
A depressão, o stress, a ansiedade, o medo de realizar as coisas podem acarretar também desequilíbrios somáticos; como dores crônicas, diabetes, pressão alta, insônia, obesidade dentre tantas outras.
As técnicas corporais dentro da psicologia propõem uma escuta verbal do que é trazido pelo cliente, seus problemas, suas preocupações, seus medos e além desta uma escuta corporal. O que o corpo diz? Sua energia está alta baixa ou alta demais? Onde estão as maiores tensões? Quais áreas precisam de maior circulação energética? A respiração está livre, fluída, ou contida e ofegante? A expressão dos olhos condiz com o que é trazido verbalmente?
Os principais objetivos dentro da terapia corporal são: Dar mais espaço à espontaneidade de nossos corpos e à expressão de nossos sentimentos.
Quando conseguimos nos conectar aos sentimentos, estes nos dão segurança para agir no mundo nos fazendo sentir espontâneos e cheios de vida!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A FUNÇÃO DO ORGASMO - O DESEQUILÍBRIO NO PRAZER COMO CERNE DA NEUROSE PSÍQUICA

Reich, como aluno de Freud, seguiu sua teoria de formação das neuroses com toda a base psicossexual da infância, entretanto reformulou-a observando o desenvolvimento dos casos por ele atendidos. Reich fez uma relação dos sintomas neuróticos (fossem eles psicológicos: medos, ansiedades, depressões ou estados de agitação; ou físicos: dores, sintomas motores, náuseas, dentre outros), com o episódio de castração na infância. A castração refere-se à supressão dos instintos básicos da criança que se resumem em instintos sexuais. Logicamente que os instintos sexuais da criança não se concentram nos genitais e sim no corpo inteiro. A sexualidade infantil se refere a todas as manifestações sexuais da criança, do nascimento até a idade de 6 anos mais ou menos. A supressão dos instintos e a conseqüente formação de um caráter neurótico se concretizam nas experiências da fase Edípica (entre os 3 e 6 anos de idade). Nesta fase a criança desenvolve um interesse sexual pelo genitor do sexo oposto e a resultante rivalidade pelo genitor do mesmo sexo. Dependendo da forma como os pais lidam com esta situação (que na grande maioria das vezes vem carregada de medos irreais e de traumas provenientes de suas próprias fases edípicas de desenvolvimento), a criança administrará ou não a energia sexual de forma neurótica. O complexo de Édipo, de acordo com a lenda em que o filho mata o pai e desposa a mãe, pode causar muito ciúme e hostilidades, de acordo com a dinâmica familiar. Em geral, qualquer manifestação sexual por parte da criança é vista como má, suja ou pecaminosa; pois os pais projetam em seus filhos sua culpa sexual. Este conceito do que significa a expressão sexual e interesse pelos genitais influenciará todas as relações futuras da criança.
Reich observou que quando havia masturbação com fantasias incestuosas por parte de seus pacientes, estes conseguiam uma diminuição nos sintomas neuróticos. O médico e criador da “Economia Sexual” também observou uma relação direta entre perturbação orgástica (dificuldade em sentir prazer) e a neurose psíquica. O conflito básico do neurótico é sua incapacidade em sentir prazer (seja no trabalho, nas relações em geral ou no sexo). A culpa fica atrelada ao processo natural de carga (excitação) o que faz a pessoa não suportá-la ou então não conseguir uma descarga completa (satisfação). Estava descoberta a base somática dos desequilíbrios psíquicos.
Reich também questionou a técnica psicanalítica que via na Associação Livre de pensamentos e na passividade do terapeuta, buscando tornar consciente o inconsciente a cura dos sintomas. A “Teoria das Neuroses Atuais” de Freud foi de muito mais valia para Reich do que a interpretação do significado das Psiconeuroses. Freud dividia os problemas psíquicos basicamente nestes dois grupos: Nas neuroses atuais havia uma clara perturbação sexual (abuso de atividade sexual ou masturbatória – Neurastenia; ou abstinência e/ou coito interrompido – Neurose de Angústia). Para o pai da Psicanálise o tratamento destas enfermidades resumia-se a uma correção das atividades sexuais. As psiconeuroses (nas quais ele não via uma correlação sexual, mas que Reich a fundo investigou e relacionou), deviam ser tratadas psicanaliticamente por revelarem conteúdo infantil reprimido. Diferentemente, para Reich qualquer manifestação neurótica tinha como cerne uma excitação sexual reprimida. Em outras palavras, nas Psiconeuroses a questão da energia sexual também estaria desequilibrada.
Muitas pessoas questionam-se o porquê de os analistas da mente humana relacionarem as doenças à questão sexual. Falamos aqui da questão sexual não somente me termos de genitalidade, de relação sexual, que é a expressão máxima de prazer somático; mas da sexualidade do corpo manifesta em seus processos vitais. Os processos de aquisição de cultura e de conseqüente Neurose estão totalmente relacionados á supressão da sexualidade e dos processos fisiológicos, vistos pelo homem em sociedade como “imorais e vergonhosos”. A neurose resume-se assim em incapacidade para o prazer, para a entrega e para o trabalho criativo, segundo Reich são as fontes de nossa vida e expressões de um equilíbrio energético.
Wilhelm Reich uniu a Ciência Natural (preocupada com quantidades e energias) á Ciência Filosófica (preocupada com qualidades psíquicas). No início do século XX a Psicanálise de Freud era questionada como ciência atribuindo-se somente á Psicologia Experimental de Wundt o caráter científico. Wundt media quantitativamente as reações fisiológicas do organismo e tinha como objeto de estudo a experiência imediata dos sujeitos (e experiência do indivíduo antes de começar a pensar sobre ela, o que para ele já era a questão subjetiva que fugia ás Ciências Naturais – processos individuais).
O conceito de “energia psíquica”, levantado por Freud, foi esmiuçado por Reich, que fazia uma síntese do indivíduo como processos fisiológicos e psíquicos interagindo e influenciando-se mutuamente. Na neurose a emoção da excitação evocada pelo instinto sexual manifesta-se em sintomas neuróticos, nos quais é descarregada a energia que não foi saudavelmente destinada, por conta de pensamentos repressivos que inibem a satisfação do desejo. Se uma idéia consciente do ato sexual não consegue materializar-se por uma inibição moral o que acontece é que a excitação volta-se para outras idéias que podem ser pensadas livremente. “A fonte de energia da neurose é o cerne somático” – Esta afirmação de que a neurose estaria ancorada numa insatisfação sexual foi questionada e refutada por muitos psicanalistas. Eles afirmavam ter pacientes com sintomas neuróticos, porém com atividade sexual. Entretanto, Reich estudando o comportamento sexual de seus pacientes observou que a capacidade de efetuar o ato sexual não define uma pessoa como psicologicamente sã, e sim a capacidade de amar e entregar-se ao parceiro. Existiam homens e hoje também muitas mulheres que transam várias vezes e com diversas pessoas julgando-se enganosamente potentes. A mulher, que experimente um orgasmo clitoridiano (sensações mais superficiais, diferentes das convulsões orgásticas que interiorizam-se na vagina no momento de clímax) também não é orgasticamente potente. É comum confundir o ato sexual puramente animal com a posse amorosa. O fato de um homem ser eretivamente potente não determina que sinta prazer pleno, podendo até sentir desconforto e desprazer.
Mas o que seria então um ato sexual saudável, medida confiável da saúde psíquica? No momento do orgasmo o comportamento é involuntário e há perda de consciência. O corpo deixa-se levar pelo fluxo de energia biológica – é a descarga, através de involuntárias e agradáveis convulsões do corpo. O ato sexual é livre de angústia, de desprazer e de fantasias, pois só se pode fantasiar o que não se pode obter na realidade. Antes do clímax (ponto alto de excitação) a direção da excitação é para a região genital, após este momento ela reflui do genital para as outras partes do corpo. Sono e sentimentos de afeição pelo parceiro é o resultado desta descarga energética.
Com a descoberta da “Função do Orgasmo” Reich adicionou mais um objetivo á terapia analítica de Freud, que não somente tornar consciente o inconsciente: Restaurar a capacidade do organismo de descarregar energia sexual acumulada, ou mesmo suportar um aumento de carga para posteriormente descarregá-la. Este processo terapêutico baseia-se num aumento da consciência corporal, expressa nas sensações e nos sentimentos e nos estados energéticos do organismo. A consciência corporal e o contato genuíno com o self são anestesiados e substituídos por necessidades irreais nos estados neuróticos. A partir do somático, de suas próprias sensações é que o homem pode compreender o que sente, o que quer e para onde deseja realmente ir. Ou seja, através de seu corpo ele sabe quem é.
A teoria do orgasmo determinou os setores psicológico, psicoterapêutico, fisiobiológico e sociológico da Economia Sexual, integrando o homem num ser pertencente às estas esferas, e que somente pode ser tratado se analisado dentro delas todas.

BIBLIOGRAFIA
LOWEN, Alexander. Medo da vida.São paulo: Summus, 1986.
REICH, Wilhelm. Psicopatologia e Sociologia da Vida Sexual - A Função do Orgasmo. São paulo: Global, 1942
http://www.psicologado.com/site/psicologia-geral/historia-da-psicologia/wundt-e-a-criacao-do-primeiro-laboratorio-de-psicologia-na-alemanha