terça-feira, 17 de agosto de 2010

A DEPRESSÃO SOB A ÓTICA DA PSICOTERAPIA CORPORAL


De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, nos últimos anos os sintomas depressivos vêm aumentando entre a população e chegando a níveis epidemiológicos. A OMS prevê ainda que em 2020 o Transtorno Depressivo seja a 2ª doença em maior incidência no mundo, somente atrás das doenças cardíacas. A Depressão começou a ser aludida nos anos 90 do século XX, e de acordo com estudos está relacionada á falta de tempo para as relações familiares, crescimento tecnológico, necessidades cada vez maiores de especialização no trabalho, competitividade, ou seja; o verbo “ter” sobrepondo cada vez mais o verbo “ser” na vida das pessoas. Valores como espiritualidade, família, sentimentos de pertencimento ficaram em segundo plano, e a perda da fé e do contato com as emoções são a base fértil na qual se enraíza a Depressão.
Os sintomas típicos são: Humor deprimido, alterações no sono e/ou apetite, agitação ou retardamento psicomotor, fadiga, culpa excessiva, pensamentos de morte, ideação suicida e/ou tentativas de suicídio. É importante salientar que os sintomas variam de indivíduo para indivíduo, podendo parecer um “cansaço generalizado” ou “esgotamento nervoso” na Depressão Atípica. Existem ainda pessoas que manifestam a depressão como um mau-humor crônico, que na maioria das vezes as pessoas classificam como “algo próprio daquele indivíduo”, algo que não pode ser modificado.
Muitas vezes os familiares ou pessoas mais próximas não conseguem diagnosticar os sintomas depressivos e pelo senso comum, ainda se considera que “são coisas da cabeça de quem sente”, que “é falta do que ter para se ocupar”, dentre outras idéias erradas acerca da doença. Só quem sente depressão sabe o que é estar como que anestesiado, sem forças para nada e sem iniciativa para tocar um projeto de vida com objetivo de realizações. Podemos falar nos prejuízos pessoais e familiares, mas também numa esfera maior, nos prejuízos econômicos e sociais que a Depressão causa. Quanto dinheiro poderia ser economizado pelas empresas e pelo poder público se não houvesse o índice elevado de adoecimento psíquico dentre os trabalhadores? Quantas realizações laborais, criações e invenções não poderiam vir da parte das pessoas se estas não adoecessem?
Hoje se sabe que a Depressão é uma doença, se manifestando como Transtorno de Humor (Transtorno Depressivo Maior, Transtorno Distímico, Transtorno Depressivo sem outra especificação, Transtornos Bipolares, Transtorno Ciclotímico, Transtorno de Humor devido á uma condição médica geral e Transtorno de Humor induzido por substância e Transtorno de Humor sem Outra Especificação); ou ainda como sintomas depressivos isolados em outros Transtornos Mentais (Esquizofrenia e Transtornos Psicóticos, Transtornos Mentais relacionados ao uso de substâncias, Transtornos de Ansiedade, Transtornos Somatoformes, Transtornos Factícios, Transtornos Dissociativos, Transtornos Sexuais e de Identidade de Gênero, Transtornos da Alimentação e do Sono, Transtornos de Adaptação e de Personalidade). Sendo assim, os sintomas depressivos podem ser considerados como presentes em todos os Transtornos Mentais, não somente nos de Humor.
A Depressão é causada por um processo de estagnação de energia do indivíduo, fazendo ele não conseguir reagir frente às situações e expressar seus sentimentos de forma natural. As pessoas com o humor deprimido ainda possuem um medo exagerado da perda, criando uma dependência exagerada de outras pessoas; ou ainda uma independência exagerada que também encobre uma profunda dependência. O indivíduo deprimido altera suas percepções acerca do mundo e das outras pessoas, reduzindo as sensações de bem-estar, mudando a forma de pensar, agir e as crenças. Afeta pessoas independentemente do sexo, raça, crença ou condição econômica e/ou financeira.
Para entender esta dinâmica do paciente deprimido, deverá ser estudada a questão da “ilusão quebrada” que precede uma situação depressiva. A ilusão é devido a um comprometimento com um futuro irreal e à fixação no passado, esquecendo-se das questões práticas do presente. O deprimido não se compromete com o presente porque lhe falta auto-percepção e expressão dos sentimentos, ele não vê quem realmente é, com todas suas dificuldades a serem vencidas e potencialidades a serem exploradas. No processo de estagnação de energia, vão se desenvolvendo bloqueios no corpo da pessoa deprimida que também devem ser trabalhados. O processo de estagnação energética pode levar na maioria dos casos á doenças crônicas ou agudas, que devem ser tratadas em conjunto com médico da especialidade referida.
São inúmeros os recursos para o tratamento da Depressão, tanto na área médica quanto na psicológica. Quando são associadas estas duas terapias a possibilidade de cura é muito maior. Cada pessoa é única em seu sofrimento, porém é importante saber que existe tratamento adequado para a Depressão.
A Psicoterapia Corporal para a pessoa deprimida se efetiva inicialmente devolvendo energia através de actings, exercícios e respirações. Este acréscimo de energia possibilitará à pessoa trabalhar suas motivações. O segundo passo no projeto terapêutico e desenvolver a autopercepção, que está muito pouco desenvolvida no indivíduo depressivo. Sabendo o que sente realmente frente ás situações de sua vida, a pessoa pode reagir de forma eficaz, o que a leva a caminhar de encontro aos seus reais objetivos e ao que realmente lhe dar prazer.
O objetivo da psicoterapia é fazer o indivíduo entrar em contato com suas sensações, fazendo fluir a energia estagnada e trazendo sensações de prazer. Mas para chegar a este estágio de saúde, o paciente deverá entrar em contato com sua tristeza e raiva reprimidas, tornando-se consciente de seus bloqueios. O bloqueio da raiva e da tristeza, aprendidos de forma mais ou menos neurótica em nossa cultura através da educação parental, causa uma perda excessiva de energia. Esta energia deveria estar voltada para a auto-regulação, ou seja, expressão natural dos sentimentos, sempre com respeito aos outros seres e humildade perante á vida.