quarta-feira, 27 de junho de 2012

ESPIRITUALIDADE X CORPO?

Tomemos a imagem de alguém em êxtase religioso: A respiração fica fluída, as pupilas dilatadas, há rubor facial e algum grau de obnubilação da consciência. Podemos perceber estes mesmo sinais em alguém que terminou de praticar uma atividade física ou teve um orgasmo. A questão a ser discutida neste artigo é: Por que dissociamos a espiritualidade do corpo? A cultura ocidental iguala o corpo à carne e a mente ao espírito. Podemos nos remontar aos primórdios da civilização humana para explicar de onde vem esta dicotomia. Quando o hominídeo se pôs de pé, sua cabeça ficou acima de seu corpo. A postura ereta foi desenvolvida paralelamente ao desenvolvimento da razão, o que nos levou a crer que o conhecimento adquirido devia ser superior às funções corpóreas. A negação dos sentimentos e o predomínio da razão estavam instaurados desde então. Pecados da carne, separação do sexo do amor, treinamento das funções corpóreas; todos estes conceitos partem de uma cultura judaico- cristã, sendo que as religiões orientais, em sua grande maioria, não costumam dissociar o corpo do espírito. Já diziam os gregos:” Mente sã em corpo são”. Costumamos trazer à mente a imagem de um asceta, alguém magro e destituído de vida, um ermitão solitário, quando pensamos em alguém espiritualizado. Lowen já dizia que “um corpo opaco é acompanhado por uma mente opaca e uma mente brilhante por um corpo brilhante”. A espiritualidade não é definitivamente uma função somente da mente (sendo que esta equivale à superfície do ser), mas do corpo todo, do âmago de nosso ser. A mente poderia ser equivalente, grosseiramente dizendo, ao ego, instância psíquica que está sobre controle; e o corpo ao id (sede de todos os nossos desejos e impulsos). Podemos então concluir então que esta dissociação espírito (mente)-corpo, com equivalente exaltação do primeiro, está relacionada à necessidade de controle. Por que devemos domar, controlar, subjugar, demonizar nossos corpos? A rigidez do controle do ego é o que impede as sensações profundas de chegarem á superfície. Enrijecemo-nos e mentalizamos nossa vida porque temos MEDO. Sentir amor demais, raiva demais, tristeza demais equivale a perder o controle, e isto causa medo. Quanto mais alto se sobe nos degraus da emoção (seja ela qual for, positiva ou negativa), maior pode ser a queda (descarga). A descarga é sentida pela pessoa minimamente neurótica como uma morte. Já apelidavam os franceses o orgasmo de “la petite mort” (a pequena morte). Com medo da descarga não nos entregamos ás emoções, que são nossa bússola na vida; o que remete á intuição, o que nos diz o que devemos expressar, o que devemos fazer. Alguém que mentaliza todas as suas emoções, torna-se um ser robotizado, alguém sem vida e sem prazer, que não suporta o mínimo de excitação. Mas por que nossa sociedade capitalista, mecanizada e pós moderna precisa de pessoas cada vez mais controladas e distanciadas da própria espiritualidade do corpo? Alguém controlado é alguém confiável, aqueles que controlam suas necessidades corpóreas podem trabalhar mais, ganhar mais dinheiro. Todo este controle a custo de que? Perda do contato com a própria espiritualidade, com o seu sentido de vida, perda de energia, doenças, depressão. Aprender a entrar em contato com as próprias emoções e descobrir seu verdadeiro sentido na vida é o principal objetivo da terapia. Podemos empreender esta busca através de alguma religião também, mas nunca esqueçamos que verdadeira centelha divina somos nós mesmos!