segunda-feira, 5 de julho de 2010

A FUNÇÃO DO ORGASMO - O DESEQUILÍBRIO NO PRAZER COMO CERNE DA NEUROSE PSÍQUICA

Reich, como aluno de Freud, seguiu sua teoria de formação das neuroses com toda a base psicossexual da infância, entretanto reformulou-a observando o desenvolvimento dos casos por ele atendidos. Reich fez uma relação dos sintomas neuróticos (fossem eles psicológicos: medos, ansiedades, depressões ou estados de agitação; ou físicos: dores, sintomas motores, náuseas, dentre outros), com o episódio de castração na infância. A castração refere-se à supressão dos instintos básicos da criança que se resumem em instintos sexuais. Logicamente que os instintos sexuais da criança não se concentram nos genitais e sim no corpo inteiro. A sexualidade infantil se refere a todas as manifestações sexuais da criança, do nascimento até a idade de 6 anos mais ou menos. A supressão dos instintos e a conseqüente formação de um caráter neurótico se concretizam nas experiências da fase Edípica (entre os 3 e 6 anos de idade). Nesta fase a criança desenvolve um interesse sexual pelo genitor do sexo oposto e a resultante rivalidade pelo genitor do mesmo sexo. Dependendo da forma como os pais lidam com esta situação (que na grande maioria das vezes vem carregada de medos irreais e de traumas provenientes de suas próprias fases edípicas de desenvolvimento), a criança administrará ou não a energia sexual de forma neurótica. O complexo de Édipo, de acordo com a lenda em que o filho mata o pai e desposa a mãe, pode causar muito ciúme e hostilidades, de acordo com a dinâmica familiar. Em geral, qualquer manifestação sexual por parte da criança é vista como má, suja ou pecaminosa; pois os pais projetam em seus filhos sua culpa sexual. Este conceito do que significa a expressão sexual e interesse pelos genitais influenciará todas as relações futuras da criança.
Reich observou que quando havia masturbação com fantasias incestuosas por parte de seus pacientes, estes conseguiam uma diminuição nos sintomas neuróticos. O médico e criador da “Economia Sexual” também observou uma relação direta entre perturbação orgástica (dificuldade em sentir prazer) e a neurose psíquica. O conflito básico do neurótico é sua incapacidade em sentir prazer (seja no trabalho, nas relações em geral ou no sexo). A culpa fica atrelada ao processo natural de carga (excitação) o que faz a pessoa não suportá-la ou então não conseguir uma descarga completa (satisfação). Estava descoberta a base somática dos desequilíbrios psíquicos.
Reich também questionou a técnica psicanalítica que via na Associação Livre de pensamentos e na passividade do terapeuta, buscando tornar consciente o inconsciente a cura dos sintomas. A “Teoria das Neuroses Atuais” de Freud foi de muito mais valia para Reich do que a interpretação do significado das Psiconeuroses. Freud dividia os problemas psíquicos basicamente nestes dois grupos: Nas neuroses atuais havia uma clara perturbação sexual (abuso de atividade sexual ou masturbatória – Neurastenia; ou abstinência e/ou coito interrompido – Neurose de Angústia). Para o pai da Psicanálise o tratamento destas enfermidades resumia-se a uma correção das atividades sexuais. As psiconeuroses (nas quais ele não via uma correlação sexual, mas que Reich a fundo investigou e relacionou), deviam ser tratadas psicanaliticamente por revelarem conteúdo infantil reprimido. Diferentemente, para Reich qualquer manifestação neurótica tinha como cerne uma excitação sexual reprimida. Em outras palavras, nas Psiconeuroses a questão da energia sexual também estaria desequilibrada.
Muitas pessoas questionam-se o porquê de os analistas da mente humana relacionarem as doenças à questão sexual. Falamos aqui da questão sexual não somente me termos de genitalidade, de relação sexual, que é a expressão máxima de prazer somático; mas da sexualidade do corpo manifesta em seus processos vitais. Os processos de aquisição de cultura e de conseqüente Neurose estão totalmente relacionados á supressão da sexualidade e dos processos fisiológicos, vistos pelo homem em sociedade como “imorais e vergonhosos”. A neurose resume-se assim em incapacidade para o prazer, para a entrega e para o trabalho criativo, segundo Reich são as fontes de nossa vida e expressões de um equilíbrio energético.
Wilhelm Reich uniu a Ciência Natural (preocupada com quantidades e energias) á Ciência Filosófica (preocupada com qualidades psíquicas). No início do século XX a Psicanálise de Freud era questionada como ciência atribuindo-se somente á Psicologia Experimental de Wundt o caráter científico. Wundt media quantitativamente as reações fisiológicas do organismo e tinha como objeto de estudo a experiência imediata dos sujeitos (e experiência do indivíduo antes de começar a pensar sobre ela, o que para ele já era a questão subjetiva que fugia ás Ciências Naturais – processos individuais).
O conceito de “energia psíquica”, levantado por Freud, foi esmiuçado por Reich, que fazia uma síntese do indivíduo como processos fisiológicos e psíquicos interagindo e influenciando-se mutuamente. Na neurose a emoção da excitação evocada pelo instinto sexual manifesta-se em sintomas neuróticos, nos quais é descarregada a energia que não foi saudavelmente destinada, por conta de pensamentos repressivos que inibem a satisfação do desejo. Se uma idéia consciente do ato sexual não consegue materializar-se por uma inibição moral o que acontece é que a excitação volta-se para outras idéias que podem ser pensadas livremente. “A fonte de energia da neurose é o cerne somático” – Esta afirmação de que a neurose estaria ancorada numa insatisfação sexual foi questionada e refutada por muitos psicanalistas. Eles afirmavam ter pacientes com sintomas neuróticos, porém com atividade sexual. Entretanto, Reich estudando o comportamento sexual de seus pacientes observou que a capacidade de efetuar o ato sexual não define uma pessoa como psicologicamente sã, e sim a capacidade de amar e entregar-se ao parceiro. Existiam homens e hoje também muitas mulheres que transam várias vezes e com diversas pessoas julgando-se enganosamente potentes. A mulher, que experimente um orgasmo clitoridiano (sensações mais superficiais, diferentes das convulsões orgásticas que interiorizam-se na vagina no momento de clímax) também não é orgasticamente potente. É comum confundir o ato sexual puramente animal com a posse amorosa. O fato de um homem ser eretivamente potente não determina que sinta prazer pleno, podendo até sentir desconforto e desprazer.
Mas o que seria então um ato sexual saudável, medida confiável da saúde psíquica? No momento do orgasmo o comportamento é involuntário e há perda de consciência. O corpo deixa-se levar pelo fluxo de energia biológica – é a descarga, através de involuntárias e agradáveis convulsões do corpo. O ato sexual é livre de angústia, de desprazer e de fantasias, pois só se pode fantasiar o que não se pode obter na realidade. Antes do clímax (ponto alto de excitação) a direção da excitação é para a região genital, após este momento ela reflui do genital para as outras partes do corpo. Sono e sentimentos de afeição pelo parceiro é o resultado desta descarga energética.
Com a descoberta da “Função do Orgasmo” Reich adicionou mais um objetivo á terapia analítica de Freud, que não somente tornar consciente o inconsciente: Restaurar a capacidade do organismo de descarregar energia sexual acumulada, ou mesmo suportar um aumento de carga para posteriormente descarregá-la. Este processo terapêutico baseia-se num aumento da consciência corporal, expressa nas sensações e nos sentimentos e nos estados energéticos do organismo. A consciência corporal e o contato genuíno com o self são anestesiados e substituídos por necessidades irreais nos estados neuróticos. A partir do somático, de suas próprias sensações é que o homem pode compreender o que sente, o que quer e para onde deseja realmente ir. Ou seja, através de seu corpo ele sabe quem é.
A teoria do orgasmo determinou os setores psicológico, psicoterapêutico, fisiobiológico e sociológico da Economia Sexual, integrando o homem num ser pertencente às estas esferas, e que somente pode ser tratado se analisado dentro delas todas.

BIBLIOGRAFIA
LOWEN, Alexander. Medo da vida.São paulo: Summus, 1986.
REICH, Wilhelm. Psicopatologia e Sociologia da Vida Sexual - A Função do Orgasmo. São paulo: Global, 1942
http://www.psicologado.com/site/psicologia-geral/historia-da-psicologia/wundt-e-a-criacao-do-primeiro-laboratorio-de-psicologia-na-alemanha

2 comentários:

  1. Oi Mari!! Gostei muito do teu blog e dos textos nele postados. Mesmo sendo psicanalista assumidamente freudiano, devo admitir que concordo com as teorias reichianas acerca das neuroses.

    Grande Beijo.

    Bruno.

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